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Nación Pachamama em Brumadinho/MG


LA VIDA NO SE DETIENE

Relato da visita de Nación Pachamama a Brumadinho/MG

Queridos companheiros!

Em 5 de fevereiro de 2019, Nación Pachamama esteve em Brumadinho e no Córrego do Feijão. Fomos em caravana, levando uma mensagem de solidariedade e disponibilidade para ajudar, acompanhar e continuar resistindo ao triste tratamento que as Mineradoras dão à terra e aos seres humanos. Este breve relato não consegue contar a magnitude da tragédia, nem a dor dos irmãos que estão em Minas e que perderam tudo o que tinham, nem as perdas de bosques, animais, águas, morros e populações. Mas, com carinho, conta nosso real envolvimento e solidariedade e a disposição que temos de ajudar com nossos meios a denunciar e mostrar a realidade do que está acontecendo.

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Saímos cedo e sem conhecer muito bem o que aconteceria, fizemos uma viagem milagrosa e cheia de sincronias atravessando essa paisagem mineira onde parecem convergir as mais profundas contradições: a beleza das montanhas que convivem com centenas de minas e conjuntos de exploração de matéria pesada num território alucinante, agora tingido pela sensação de bruma e contaminação, que no entanto, ainda continua fazendo resplandecer tudo quanto brota ao seu redor.

Na relva ou nas raízes, nas rochas preciosas e nos ventos dos abismos na estrada, a Pacha (Mãe-Terra) parecia dizer que em momentos como este a vida não se rende, não se cansa, não se entrega, não para de resistir. Logo no começo da viagem e procurando nosso destino nos topamos com o Instituto Inhotim fechado. O belo museu ao ar livre que alberga uma imensa coleção de arte contemporânea integrada a natureza, e que que se salvou por milagre, pois a barragem passou bem perto de suas instalações e bosques, tem uma população de funcionários que são um 80% de Brumadinho e que foram atingidos direta ou indiretamente pela tragédia.

Nesta página podes ler os comunicados do Museu e compreender que como centenas de pessoas, rios e locais, também está em risco neste momento uma impressionante obra de arte que integra a genialidade humana com a potência da natureza:

https://inhotim.org.br/blog/ instituto-inhotim-adia-data- de-reabertura/estação.

Seguidamente passamos a encontrar a “Estação do conhecimento” da Vale em Brumadinho, a empresa responsável pelo crime, e sua fachada de "apoio" e simulação. Observamos diretamente o clima de desinformação, que mais tarde, junto aos militantes e atingidos diretamente na Barragem, compreenderíamos. Entramos nesse povoado jogado brutalmente contra uma parede da história, hoje cinza e empoeirado, e nos encontramos com o rio Paraopeba, tingido da cor intensa da barragem levando os rejeitos mundo abaixo.

Observando que nesse local não poderíamos fazer nada, antes do meio-dia viajamos ao Córrego do Feijão onde estourou a barragem. O caminho terracota para chegar lá era de um verde inspirador, misturado com esse cheiro nauseabundo das minas. Passamos por Casa Branca, o povoadinho vizinho também afetado pela tragédia, no meio do calor seco do verão, entre as rochas e os caminhos de pó e terra vermelha. Ainda assim, a natureza do local continua sendo impressionante e viva. Tomamos o único e longo acesso ao córrego, pois os outros caminhos e estradas sumiram completamente no desastre.

Na estradinha de terra umas Morfos, aquelas Borboletas azuis gigantes, brincavam ao redor da nossa caravana, tudo parecia falar, mostrar, fazer brotar das esquinas os milagres e nos conduzir com alegria no meio dessa geografia que pulsava puro silêncio e confusão.

Chegamos no Córrego, sem nenhum inconveniente. Havia acabado de acontecer uma reunião de imprensa com os Movimentos dos atingidos que apresentaram uma auditoria sobre os primeiros 10 dias da tragédia.

Esse relatório está aqui NO ARQUIVO ADJUNTO, e está assinado pela ARTICULAÇÃO INTERNACIONAL DOS ATINGIDOS PELA VALE. Podem ler e saber através dele o que tem acontecido realmente, a negligência da empresa, as irregularidades que montou para se proteger e a violação aos direitos de Pachamama e dos seres humanos antes e durante o transbordamento da barragem. Este documento foi entregue aos jornalistas e movimentos de ativistas e nos foi pedido que seja divulgado através das nossas redes como movimento e como pessoas da sociedade civil.

Também foram entregues para que divulguemos em todas nossas redes os documentos NOSSA TERRA SANGRA, NOSSO POVO CHORA, NOSSA LUTA CONTINUA do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, e as cartas para o CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E FISCAL DA EMPRESA VALE, onde o movimento dos Atingidos pede que a empresa destitua sua diretoria executiva imediatamente e convoque a uma audiência extraordinária, para que possam ser tomadas ações urgentes e limpas no processo de investigação criminal que está em curso.

Nossa pequena caravana chegou num dia sincronicamente necessário e conseguimos oferecer desta forma nosso apoio através da ONG PACHAMAMA e nossas redes na importante divulgação destes documentos.

No povoado, lotado de militares, helicópteros, bombeiros e militantes de todos os movimentos nos encontramos com Ka Rivas, um militante de Casa Branca que faz mais de 10 anos vem denunciando as mineradoras e anunciando o que ia acontecer. Ka, já conhecia nosso movimento através das redes e também uma parte da região de Q'eros. Incluso em épocas anteriores um Paco Querito, convidado por ele já tinha vindo em Casa Branca e oferendado com o Movimento da Proteção das Águas alguns pagos para os Apus que ali moram.

Saímos caminhando juntos a conhecer o desastre, mas a polícia tinha fechado os acessos. Porém, no caminho aconteceu outra bela sincronia, um Frei franciscano se juntou ao nosso passo e nos convidou a pegar um caminho que ele tinha descoberto para ir o mais perto dos escombros da barragem e que estava liberado de polícia e de imprensa... O frei, silencioso e amável, com sua cruz sobre o peito e fumando lentamente um maço de cigarros de palha, nos levou em instantes ao pé do desastre, por um caminho de casas e animais abandonados e de grandes árvores caídas ou arrancadas pelo estremecimento da terra. Finalmente, ali estava aquela gigantesca cicatriz de lama de um tamanho imenso. Chegamos no exato meio-dia. Metros de lava e rejeitos deformaram completamente a paisagem por 15 quilômetros rio abaixo. 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de ferro e material pesado foram lançados furiosamente sobre a Terra.

Podes ver neste vídeo o momento em que a barragem da Vale estoura:

https://www.youtube.com/watch? time_continue=25&v=0Xf5dIXCKBY

Há 50 barragens perto da área em risco de estourar em qualquer momento. E centenas delas, espalhadas por toda Minas Gerais, 832 em todo Brasil, sobre as que se desconhece o estado e tratamento.

Até dia 6 de fevereiro, que estivemos em Belo Horizonte, tinham sido encontrados 150 corpos e ainda restam 182 pessoas que continuam desaparecidas.

Podes entrar neste link do jornal EL PAIS BRASIL, onde vais encontrar todas as notícias mais recentes e os informes sobre Brumadinho.

https://brasil.elpais.com/tag/ rompimiento_presa_brumadinho/ a/

Meio tontos pelo impacto da visão, mas na sobriedade da nossa alegria ainda perante esse momento impressionante, abrimos nossa bandeira e as mesitas e Ka nos deu folhas de coca que oferendamos ao APU (morro) "Três irmãos" que está justo acima da barragem, e, como a maior parte de montanhas de Minas, todo perfurado por dentro, mas ainda em pé. Acima da gente voaram duas andorinhas brincalhonas, ao pleno meio-dia onde os grilos faziam sua festa de risos e cantos de monte, que contrastavam com o som militar dos helicópteros que a cada cinco minutos transportavam o que pareciam corpos pendurados por redes.

Tudo chorava, mas tudo sorria, e nós, pequenos e breves nessa imensidão terracota e lúgubre rezamos, e esse rezo beijou o vento e levou a mensagem da Nación Pachamama sobre os escombros da barragem exatamente na frente do lugar onde ela estourou. Estávamos ali, em pé junto d'Ela que chorando ainda continua suspirando ao redor da lama, e esperando o momento para reverdecer de novo. Depois de um tempo lento de rezar e irradiar, saímos em silêncio e agradecidos, com o coração estremecido mas firme na certeza da militância. Nossas negritas mineiras choraram com calma ao ver a realidade que nos foi mostrada e que não pode ser sentida pela TV, nem pelos relatos alheios.

Na volta ao povoado nos deram almoço de graça na estação da Vale que parecia fazer incólumes esforços por mostrar que está tudo sob controle. Comemos um franguinho com quiabo junto dos bombeiros, dos padres, das famílias, dos empregados da Vale, dos cachorros famintos. A comida era boa, mas tinha o sabor estranho dos velórios. Ka se despediu agradecido e surpreendido da nossa inocente audácia de chegar até ali justo nesse dia e movidos unicamente pela propulsão dos milagres, e o Frei, depois de almoçar com a gente, sumiu tão misteriosamente quanto apareceu. Na volta, nos despedimos das negritas acompanhantes que emocionadas agradeceram a aventura e abraçaram uma árvore centenária na pracinha de Casa Branca, onde os moradores levantaram um memorial para honrar as vítimas. Selene, Dom Pablo e eu saímos da zona e tomamos a estrada de volta rumo à cidade, mas, chamados pela brisa paramos num belo mirante desde onde se via a grande Belo Horizonte e, de longe, como um risco marrom, uma parte da barragem. O mirante estava justo acima de um belo Apu que descansava ali deitado como um felino em repouso, brilhando verde e absorto em seu silêncio incomensurável, emanando prazer e aquela certeza de Montanha velha que já viu tudo, especialmente a brutalidade.

O silêncio tocou seu sino, e o Apu Dourado em seu esplendor deteve o tempo e agradecido nos alimentou com vento e uma plenitude mística que durou uns segundos. Esse ser nos falava com sua língua de Buda e nos limpava com uma delicada epifania que irradiamos a todos vocês...

Por um instante sentimos a aliança entre os reinos e a sinfonia de sincronias que ao redor da gente era tocada por Eles nesse dia. Tínhamos feito uma jornada de militância bordados de encantamento. Nenhuma gota de desesperança tinha nosso ser e levávamos a mensagem dos próprios atingidos para poder ajudar.

De volta a BH, um mesmo coração repartido em três, flutuava rindo docemente no transito caótico das 18h. Há horas que viajávamos, nossos cabelos e roupas tinham o cheiro de ferrugem, mas nosso ser irradiava amor para a Barragem, para os negritos de toda Nación Pachamama e para nossos companheiros da cidade que nos esperavam para um paguito e uma noite de encontro e militância poética.

Neste momento, pedimos a todos os uaikis que divulguemos estes documentos ADJUNTOS à todos os cantos do planeta. Isso foi o pedido dos atingidos e dos movimentos sociais para nós, não nos pediram nem dinheiro, nem apoio psicológico, nem alimento ou água, nos pediram DIGNIDADE e JUSTIÇA através de divulgar a realidade do que está acontecendo.

O bem resplandece, prevalece!!

E A vida com ele continua a brincar em azul Morpho.

No ocaso desse dia o sol se deitou brilhando sobre uma poça de lama.

La vida no se detiene.

Com carinho militante: Dom Pablo, Selene, Trinidad, Sandra, Sonia e Guisseli, pela Nación Pachamama.

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